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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Pontes para Si - Pitanga em Pé de Amora ou A Importância de Morrer.

       
            Ta aí a primeira resenha suicida do mundo. Vou te explicar, fantasma leitor.

Poucas vezes em minha vida posso dizer que me aproximei tanto da morte. Poucas vezes posso dizer que entrei em contato direto com minha existência, capaz de compreendê-la e soltá-la feito pássaro nesses meus labirintos e abraçar assim, em sorrisos, a atormentadora morte. Nesses momentos únicos, ímpares e paradoxais, a morte torna-se bichinho de estimação, um cachorro amoroso que nos lambe a face e nos molha em seu amor. A morte vira namorada, dá-nos a mão e beija-nos a boca e nos faz atingir o maior gozo já alcançado pelo humano frágil corpo. E ficamos lá, nós dois, eu e a morte, a valsear pelas ruas confusas e acinzentadas, eu pronto e puro para ser abatido, ela só a brincar comigo, pois nunca me ousou levar. Assim senti. A última vez, três anos atrás, era um dia nublado e vazio, meus pés no chão cinzento da cidade, nos ouvidos o Réquiem do Mozart, no corpo um prazer etéreo que só a musica pode vibrar. Ali eu pensei imediatamente que poderia morrer facilmente. Tão leve que era capaz da gravidade me refutar, do Sol me imantar, do corpo pulverizar-se naturalmente. Alguma alquimia poderosa e antiga acontecer ali, me metamorfosear em bando de pombas brancas, dentes-de-leão ou apenas cinzas ao vento...  Ali nada temia eu, abraçando Mozart em sua morte e velando seu corpo. Poucas vezes tive essa experiência pré-mortem e post mortem. Hoje, depois de tanto tempo, eu tive, ao ouvir o novo disco dos amados Pitanga em pé de amora. Morri completamente e renasci poderoso no fim de cada música. Cada célula sentindo as potências musicais e vibrando tão forte que não aguentavam a própria vida. Era isso meu corpo: show de fogos de células confusas se implodindo de prazer. Morri de dentro pra fora, inverti-me, e ao fim de cada experiência me renovei. Esse álbum, amigos, nos dá a chance de ser fênix finalmente.

Pontes par Si. Sem dúvidas o nome foi tão certeiro quanto cada música com que esses moços e moças nos presenteiam. Pontes, tantas pontes que confundem. E dentro do caos reina o sentido de ser e o sentido de existir tantas pontes e atalhos para Si. Nunca ouvi algo tão maduro, no movimento natural da lagarta se metamorfoseando em seu casulo até a libertação de suas asas. Nunca presenciei uma tomada de identidade e musicalidade tão afiada e, sim, afinada. Refinada. Sem fim. Enfim, nada pode explicar em palavras essa mutação tão natural dessa trupe musical, pincelando essas notas lindas de dó à (pontespara)si. Falo aqui, em minha pequenez de conhecimento, que esse álbum e essa reunião de amigos com a musica, toda essa brincadeira poética, esses trava línguas instrumentais, todo esse todo é o melhor resultado da musica nas minhas ultimas descobertas. Os Hermanos, Camelo, Amarante, Graveola, O Terno, Os Mulheres Negras, Orquestra Filarmonica, Cícero, Móveis Coloniais, e mais, esses tão grandes, tão bons, tão únicos em suas idiossincrasias e tão unidos nessa mesma vibração de fazer pulular a boa música em nosso cenário musical difícil são pitangas em pés de amora. São diferentes, apontados, são destacados, são deslocados. Somos assim todos nós. E por sê-los, para mim, é esse o álbum que maior se destaca na história dessa nova música que vem nos inundando (perceba: inundando, mas não afogando. Afinal, no prazer me inundo facilmente).

Eu aqui, sobre meu troninho de nada, no meu tamanhozinho pífio, me cubro com esse tecido tão bem costurado. Essa música madura e ecoante, que gruda e desgruda postas de nossa carne, nos põe pra sangrar. Temos que sangrar, senhoras e senhores! Aceitar nosso sangue, senti-lo e toma-lo! Tomar nossas misturas, nossos líquidos confusos, do mais árido ao mais cremoso, e nos entender inteiros. Temos que fazer essa endoscopia musical, esse exame de próstata sentimental para nos sentir cada musculo, cada fibra à flexionar, cada resposta natural ao todo. É isso que me senti, aliás, uma caixa de bateria batendo sozinho a cada música, extremamente afinado com todos os tons de Pontes para Sí. Uma impossível caixa de bateria afinada em todos as tonalidades do mundo. Devo isso, essa percepção, a eles. Essa percepção que devemos ser multi-instrumentais, extra-tonais, transcendentonais. Revolu-de-dó-a-si-onários.

E aqui, eu observador com catarata nos olhos, confuso nessa floresta árida de poesia e internos labirintos, eu que tão pouco sei e tanto ouso falar e gritar, pequenininho nos pés dos grandes, como uma criança, um bebê-pulga, posso afirmar em toda minha falta de autoridade em qualquer assunto (e aliás acho que é tão importante isso que vou dizer a seguir que vou botar em um parágrafo só para ele):

Tem certas coisas que merecem entrar para a História e a Identidade Musical de uma Nação (e perceba quantas maiúsculas, isso é realmente importante, leitor). Coisas como a Tropicália, a Bossa Nova, coisas Revolucionárias assim, marcantes cicatrizes belas. Pra mim o álbum ao qual ouvi hoje merece estar marcado para o futuro, porque é de tamanha excelência e profundidade que raro se vê e quase não se vê mesmo ali existindo. E em tudo toca, porque bebe direto dos nossos pais e dos nossos avós, na linda complexidade da bossa nova, do choro, do samba, do frevo, das marchinhas, coisas estritamente brasileiras. Passeia afinadamente entre todos esses mundos, brinca até com o funk, aceita a miríade social e musical brasileira. Fala do todo mirando nessa partícula minúscula e eternamente complexa que é o “si”, o cada um. É de cada um que se forma o todo, cada célula da nossa comunidade (veja, a própria palavra nos diz: comum-unidade).

Vamos morrer juntos, amigos. Morrer musicalmente, de dentro pra fora, abraçar esse vento sólido que nos toma. Vamos ouvir e aceitar essa possessão, beber dos exorcismos musicais. Sintamos na boca escorrer a excelência e um aplauso enorme à esperança! Uma ovação aos dedos e às bocas, às mentes, às poesias, uma salva de plumas e palmas tão grande que tenham a consistência de um cobertor e que cubra, enfim, nossos artistas. Artistas que devem ser sempre, fervorosamente abraçados e que precisamos sempre mostrar o quanto são importantes. Porque importantes são, por serem um outro capaz de nos fazer entrar em contato com nosso eu. Por serem, enfim, nossas pontes para si.

E não vou mentir, fiquei com invejinha dessas músicas tão bem arranjadas, poetizadas, cantadas, feitas em si. Quem sabe esse eu com minhas músicas tão quebradiças e engatinhantes chegue um dia nos pés desses senhores e senhoras? A mim basta o sonho, as asas eu desenho depois. Do mais, vale a pena. Acredita em mim. Acredita neste louco apaixonado, vai. Não vou te decepcionar. Vamos lá.


Vai, para de ler essa baboseira. 




De quebra, eles no programa Ensaio:



domingo, 13 de julho de 2014

O asfalto no beijo.


Ser homem ou ser humano


“Arandir (numa alucinação) – Dália, faz o seguinte. Olha o seguinte: diz à Selminha.
(violento) Diz que, em toda minha vida, a única coisa que salva é o beijo no asfalto. Pela
primeira vez. Dália, escuta! Pela primeira vez, na vida! Por um momento, eu me senti bom!’




Em 1960, Nelson Rodrigues publicou “O Beijo no Asfalto”. Nessa obra, um homem morre atropelado por um ônibus e em seu leito de morte pede ao outro homem que se projetou para ajuda-lo um beijo na boca. O homem o faz. O homem beija o homem na boca. E a partir daí o homem é caçado, esquartejado socialmente, destroçado em sua sensibilidade, expostas tripas podres e vergonhosas. Um beijo no asfalto, tão sujo como o solo, tão sujo como o sangue, aquelas bocas delicadas se tocando, os bigodes espetando o rosto com barba por fazer, a boca do agonizante já com gosto de seu sangue, fazendo do beijo um evento maior que o beijo. Havia asfalto no beijo. Câmeras, imprensa, sensacionalismo, delegacia, três tiros. Não é o melhor futuro que espera nosso herói, o homem que ousou beijar o moribundo. O motivo? Nenhum. Atender um pedido. Atender um último pedido. Natural, assim. Assim como é natural morrer por um beijo proibido. O homem beija por sensibilidade, delicadeza que aflora. Beija por sentir necessário o beijo no cadáver pedinte. O asfalto também é beijado, é onde o corpo do homem atinge. O fundo do poço. Jamais questiona a si mesmo: o beijo no asfalto foi o mais próximo a ser bom.

Nelson Rodrigues nos entrega uma história que surpreende em sua simplicidade e audácia, em sua super-humanidade, em sua agressiva corrupção. O "Anjo Pornográfico" não usa de sua "pornografia" aqui, ele abre espaço pro amor e pras leituras sociais do mesmo. Nelson Rodrigues nos atropela e nos beija, enfim, agonizantes. Falas rápidas, entrecortadas, como falas de verdade são. É uma peça, oras, a mímese perfeita da fala humana, Aristóteles totalmente orgulhoso ou se suicidando eternamente no céu ou inferno que se encontra (talvez inferno, por ter dado beijos em homens com ou sem asfalto). Os temas abrangem caminhos enormes e reflexões ainda maiores. Me movimentou até aqui, nessa ínfima gota de meu suor, e me movimenta ainda mais. Porque em mim houve um mergulho, me senti o homem que beija o morto, me entendi assim. E entendi a bondade que o personagem Arandir sentiu, e entendi a grandiosidade de um beijo no asfalto. Senti, enfim, a dor da incompreensão e das jaulas fálicas de um mundo mentalmente castrado e domesticado erroneamente. 


Imagine você, o ápice da bondade humana: doar seu beijo ao homem que pede em seu único momento. Doar, ao homem moribundo, o filete de alegria e prazer para suportar a dor. Ou talvez uma certeza, Um carinho. Uma réstia de amor. Mas não é disso que se trata. Não podemos ser bons assim. O homem bota peso nas costas do próprio homem. E ele tem sempre que ser apto para carregar, qualquer deslize, qualquer piscadela, é o fim como um beijo no asfalto. A eterna existência dos homens são homens que agonizam no chão e outros homens que negam o beijo derradeiro, ou os raros que realmente os beijam e que são julgados e mortos, enfim, banidos do império dos machos. É a voz sentimental calada, é a veia poética esturricada pela falta de alimento. Boca é pra chupar. Pra falar palavrão. Pra morder lábio de fêmea e teta. Poesia não transcorre dessa boca, não de boca que não sorve poesia, o asfalto seca, veias abertas do solo gritante, sem beijos, sem piedade. Raro ver homem se abrindo pra homem. Raro ver choro de homem, lágrima na barba, lágrima na masculinidade. A única coisa que chora é a cabeça do meu pau, ouço. Sim.




Duvido de minha posição de homem. Figura masculina tive em momentos diferentes e não dei atenção a elas. O futebol nunca fez parte do meu vocabulário ou vontade. Tampouco brigar. Tampouco pegar mulher como se pega o lixo que estourou no chão. Mijar envolta de si e do que é seu nunca me foi algo a passar pela cabeça, marcar território como bom macho alfa. Ser másculo, ser duro e inflexível. Em mim sempre brotou a poesia, a música, a sensibilidade, a observação. Homem age, eu olho. Homem é bem sucedido, eu falho em tanto. Duvido, se é isso ser homem, do que sou. Viadagem, devem pensar. Pensem.

Se isso for homem, essa virilidade azeda e falsa, essa selvajaria acéfala e repetitiva, essa brutalidade calosa e enrugada. Se é isso ser másculo, o soco sempre pronto e certeiro entre os dedos, os dentes presos com xingamentos e putaria, os paus sempre muito duros e enormes, briga de falos, potências sobre potências. Se é isso não sou isso. Sou o resto disso. O resto do que ser homem é. Sou o intermédio, sou sem remédio, enfim. O homem me refuta de seu clube. Tem que ser mais homem, rapaz.

Sinto pena das vendas nos olhos que choram por dentro, dos músculos estourando que tampam o cérebro, do sorriso desesperado pro espelho acreditar. Esse clube de machos com paus em riste, proibido menor de vinte centímetros pra entrar. Sinto pena da prisão que o homem se encarcera pra provar ser homem pra si mesmo. Porque os outros nem estão ligando. Ele precisa da aprovação dele, apenas. O homem não produz lágrimas ou sentimentos. O homem não se abre para amigos, nem amigos muito íntimos ele tem. O homem de verdade só pode prosperar, não existe falência, não existe inércia, você é um homem ou um rato? Seja homem, levanta. Seja homem, não humano.


É muita coisa em cima do homem e aquele que não conseguiu evoluir músculos para carregar o fardo que a si mesmo impõe, aqui não vive. A tacha de suicídios entre homens é a maior, os homens são insatisfeitos consigo mesmos, como? Talvez o desenho que esperam de si não é o que consigam. Talvez a criação de ser homem seja transcendente demais, seja um ser perfeito demais para nós alcançarmos, o homem é um mito. Porque às vezes não se consegue ser homem e falhamos sendo humanos, acontece bastante. E vem o julgamento do outro, e vem a difamação interna e externa, e vem os questionamentos que todo um percalço de autocriação traz.  O homem é fruto do homem.  O homem é o homem do homem (Plauto e Hobbes que me perdoem). O homem é sua própria vítima. O homem é tão homem que às vezes se cansa. E à noite, no escuro atrás de nossas pálpebras, o homem se deixa atropelar e pede, dolente e ensanguentado, o beijo a outro homem.

   Leia mais sobre o assunto: https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/pelo-direito-de-broxar-falir-e-ser-sensivel-campanha-pede-que-homens-libertem-se-do-machismo/

 Ou só veja o vídeo:



No final não falei da obra do Nelson Rodrigues. 
E falei.


Assistam o filme de  1981.

O Beijo no Asfalto - Nelson Rodrigues 




sexta-feira, 30 de maio de 2014

Green Lover (por Leo Ayuso)

Em 2011, eu acho, minha cidade, Niterói, fez um festival de música latinoamericana, na qual o nosso Paulinho Moska recebeu alguns convidados, entre eles, o argentino Lisandro Aristimuño. No show do Paulinho, deu tudo errado: a chuva caía torrencialmente fora e dentro do palco (era um palco montado na praia), colocando os equipamentos e até os artistas em risco. Fim. O show foi interrompido. Mas Lisandro ainda se apresentaria no Theatro Municipal de Niterói e eu já tinha sentido um gostinho. Gostei. Fui ver o show do moço... inacreditável, simplesmente indescritível. Lisandro sozinho tem uma capacidade inacreditável de construir uma atmosfera completamente imersiva com suas músicas. Foi quando ele anunciou, e eu meio que entendi, no meu espanhol/castelhano meia boquíssima, uma música que fez quando conheceu e conversou com as Madres de la Plaza de Mayo, as mães que perderam seus filhos na rigorosa ditadura. Lisandro murmurou alguma coisa, que ficou repetindo em looping com o troço-de-musico-que-repete-som dele. Não fez sentido. Murmurou mais uma e mais uma e o som do violoncelo que você pode ouvir abaixo foi feito inteiramente com sua voz. Quando a melodia tomou forma, meus olhos se empoçaram. Quando começou a cantar, já estava em outro lugar. Música maravilhosa e, catando ela outro dia, me deparei com essa "resenha" que achei tanto parecida com as nossas "resenhas" que resolvi pôr aqui, sem pedir mesmo, em espanhol/castelhano pra não estragar e é isso. 







"Fieldsa recomendó esta canción: “Es uno de mis temas preferidos de Aristimuño, si bien está dedicado a las Madres de Plaza de Mayo y su lucha, creo que la letra puede adaptarse a otras historias. Me quedo particularmente con esa frase que dice 'llevo la luz que nos despertó'"
La música de Lisandro te va depositando de a poco en una hamaca de algodón, pero no te lanza sino que te lleva flotando de a poco con aroma a polen en el aire y arcoiris de emociones a los ojos.
Su variedad sonora es como millares de caleidoscopios de mil formas y colores que te seducen con suavidad, con ternura, con amor, con ideas.
Es constante esa mezcla de tristeza y melancolía que te enjuga el lagrimal pero que a la vez te carga el alma de esperanza y buenos augurios, es un de enlace de sentimientos y pensamientos que parece de ensueño.
Tantos matices, tantas formas que se unen y se mezclan como acuarelas pero que nunca llegan a fundirse totalmente. Son todo uno y son casi nada, ese es su atractivo, el individualismo y la unión, todo junto convive.
Su inmedible capacidad compositiva la corona con una voz de terciopelo que encanta cual sirena y, como Ulises, nos atamos a la silla para recrear la Odisea homérica e intentar no irnos a otra parte, al menos no hacerlo más que con el pensamiento que ya resulta inevitable cuando le das play a la obra de Aristimuño.
Todas esas armas terminan por decretar con la fuerza de la convicción y la arremetida del talento que el pop no se define por un conjunto de rimas naifs y sonantes  que acaban en edo, ado, udo. En cada canción, en cada disco, Lisandro golpea las puertas de la mentira.
Green Lover es una clara referencia a una huella en la historia argentina cuando anuncia que vienen por él, que dará a luz con los libros como bandera. Pero también puede ser una canción con ideas mínimas, letra detallista y minuciosa junto a una armonía incandescente que describen una historia cotidiana que todos supimos atravesar alguna vez: entre el desencuentro y lo inentendible de un fracaso; y la expectativa y el anhelo de algo nuevo.
Entre medio se cuela un disco de los Beatles junto a una tapa del flaco, unas fotos que llorás y una carta de cosas no dichas, y ¿por qué no? una botella para olvidar y volver a empezar.
Mientras, Aristimuño sigue regalando un repertorio sin lugar para recortes en la ilusión de aquellos que creen que el medio local bastardea las expresiones artísticas, para no estar donde la música “se convierta en un envase descartable”.
Como suele suceder con Lisandro, Green Lover es una de esas canciones para días de lluvia pero que a la vez le hacen cosquillas al alma y ponen a bombear el corazón."

Por Leo Ayuso
leoayuso@undiaunacancion.com

terça-feira, 13 de maio de 2014

Memento Mori e reflexões sobre a morte

Memento Mori - Lembra-te de que és mortal;



O que é a morte? Por que morremos? Por que tememos tanto morrer? São perguntas sem resposta, mas que são também inevitáveis. Em Memento Mori, um documentário genuinamente horaciano, essas e outras questões serão exploradas. Dessa vez não tem resenha, a proposta é outra: a reflexão sobre a finitude. Divirtam-se!







A morte é o real contraditório que nos força a enxergar a vida (o caminho em aberto que temos pela frente) com a avidez e vontade de quem tem pouco tempo para percorrê-lo. A morte torna nossa vida imaginada e, com isso, cria nossos sonhos e utopias. Temos pouco tempo.





Certa madrugada me veio:

"A vida é o universo pulsante


A morte é parte da vida, não é exterior a ela e muito menos é seu oposto. -> a morte deriva da vida ou é parte inerente dela?

A manifestação quanto à vida é possível? Pois a manifestação em si já é vida.

O universo pulsante não existe, a vida sim. A vida é o universo pulsante e a relação não é recíproca. Isto por que a vida é e sempre será prioritária em qualquer relação. Ex: A vida é um bocejo. A vida é uma árvore. A vida é uma estrela. Qualquer coisa que represente algo será vida, exceto se estiver isolada ao ponto de não se relacionar com absolutamente nada, nem ela mesma. Neste caso será Deus. A vida, como prioritária ao complexo sistema de relações se coloca acima de todas as coisas. A vida é, portanto Deus. No entanto, a vida não pode ser uma entidade, visto que por mais que prioritária, não pode representar a si mesma, ou seja, se enclausurar, se embarreirar, para começar porque as barreiras fariam parte da própria vida e, depois, pois sua extensão é tal que conceber seu fim é dar-lhe sobrevida. Entender algo fora da vida, isto é, do prioritário ao universo pulsante é simplesmente contraditório com a própria noção de prioridade sobre tudo. Não há externalidades e, portanto, não há entidade. A vida é, então, Deus em sua não-forma solta, inisolável (sim, estamos criando neologismos aqui, ou seja dando vida às palavras, ainda mais além, dando prioridade de existência a elas), mas irrelacionável pois não há com o que se relacionar.

Ok... resta a questão da morte enquanto parte constituinte da noção solta de vida ou derivada dela. Não se pode conceber a morte como "tudo que é externo à vida", para começar pelo simples fato de entendermos a morte, e, além disso, pela evidência óbvia do imenso - IMENSO - impacto que a morte tem sobre a vida. Se apenas considerarmos nós, seres humanos isolados conceitualmente para fins "metodológicos", acho que isso fica muito mais que claro. Não é concebível, portanto, que a morte se abstraia da vida. É, no entanto, parte constituinte fundamental da experiência de vida - tudo morre, cedo ou tarde, de animais e plantas, a estrelas e, provavelmente, átomos e as partículas mais elementares da constituição da realidade. É desta experiência de vida que decorre nossa morte, isto é, morremos porque vivemos ou morremos apesar de vivermos, sendo a morte uma face da vida? Talvez ambas as opções estejam erradas, posto que a vida não permite a ausência e a morte seja parte da experiência de viver (se constituinte ou decorrente dela, já não importa) e a morte não exista, portanto, enquanto ausência, concluo que a vida só pode ser absoluta e a morte efetiva - enquanto destituição de vida  (ou seja, perde sua capacidade de influenciar, perde sua relevância, sua característica a priori enquanto algo existente) - não pode existir, já que a vida é e será sempre relevante.

De uma forma mais resumida, posso falar, mais especificamente, que nenhum ser (e encaro ser aqui como qualquer coisa dentro do universo pulsante, qualquer coisa que tenha vida a priori, que seria "tudo", na verdade) deixa ter relevância em momento algum.

Sua presença enquanto vivo é o suficiente para deixar uma marca efetiva nos fluxos que subjazem a vida."

Meses depois, uma conclusão: Se a morte é a perda do estado de consciência, ela é altamente egoísta e individualista; nada morre porque nada jamais deixa de existir (ou de ter existido [ou de vir a existir]).



Morro? Pois então, vivo!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

“Quem quer entender o destino, tem de sobreviver a ele.” (re-resenha)



Jostein Gaarder é um escritor e filósofo norueguês, conhecidíssimo pelo seu livro O Mundo de Sofia, entretanto, a nossa relação se estreitou devido a uma outra carta, escondida não somente sob a manga, mas entre prateleiras de livrarias e sebos. Depois de anos de encontros e desencontros, numa tarde de folga no Centro da cidade, encontrei o curinga rindo ironicamente debaixo de uma pilha de livros, e por fim consumimos a nossa relação objeto-espectador / livro-leitor.
O Dia do Curinga é uma das obras que eu carregaria no bolso sempre, tivesse eu uma versão pocket sua. As primeiras páginas surtiram o mesmo efeito mágico de quando eu havia lido-as cinco, seis anos atrás, o restante era um oceano desconhecido. O livro não trata de Filosofia em si, como em O Mundo de Sofia, mas é filosófico, assim como toda a obra de Gaarder. Suas páginas carregam a história do garoto Hans-Thomas, que sai de Arendal, uma pequena cidade norueguesa, em direção à Grécia junto de seu pai “à procura da mulher que os deixou oito anos antes”, uma mãe-esposa que se perdeu no mundo para se encontrar, e nesse trajeto dentro de um fiat vermelho cruzando o Velho Continente até a Antiga Grécia dos olimpianos, o garoto participa de conversas com seu pai a cada “pausa para um cigarro” que vão desde maldições de família à desolação da bocarra de ferro do Tempo que devora a tudo e a todos, ele descobre a bebida púrpura e os peixinhos coloridos nos Alpes, e recebe – devido aos acasos do Destino – dois pequeninos presentes que o acompanham ao longo da viagem: um pequeno livrinho com letras minúsculas e ilegíveis, e um pedaço de vidro que lhe cai como uma lupa.
É através do livrinho que Gaarder nos conta uma história dentro da história e outra dentro desta, e no fim tudo vem a se encaixar como cartas espalhadas aleatoriamente pelo mundo, mas que começam a serem organizadas por uma mão invisível que trança as vidas no Destino. A história de Hans-Thomas, dos peixinhos, da bebida e das cartas de paciência de Frode é por vezes tão lúdica, assim como o próprio Curinga, tão fantasiosa que no fundo, já preso à narrativa reflexiva e suave, você se pega rezando pela realidade dessas estórias-histórias, agarrando-se com todas as forças nessa trança invisível.
Outro aspecto peculiar do livro – agradabilíssimo aos amantes de baralho – é a organização de seus capítulos, cada um sendo uma carta do baralho, e entre eles, a carta-capítulo do curinga que nos traz o verdadeiro ponto de revolução da história, o ponto inicial da evolução do herói, um ponto muito anterior a Hans-Thomas mas que tudo tem a ver com o garoto.

O Dia do Curinga é um daqueles livros que te deixa com o coração apertado conforme as suas páginas vão acabando, é um livro que te deixa com um brilho nos olhos quando o menciona, que te deixa – propositalmente – com muita pulga para pouca orelha, e isso é o mais gostoso, essa relação ativa que o leitor desenvolve com a história e suas reflexões, afinal, Gaarder se diz escritor e filósofo, e ele faz por merecer tais títulos. A grande jogada do curinga, ao meu ver, é você conseguir deslocar daquele universo as capacidades de observação e sensação, trazendo-as para cá. O dia do curinga encanta, porém encanta muito mais àquele que se dá ao prazer de observar, admirar e sentir os pequenos detalhes da vida, do cotidiano, tornando-se assim mais um curinga, mais uma carta fora e ao mesmo tempo dentro do baralho.


domingo, 27 de abril de 2014

Vivendo ao vento

"Le vent se lève
Il faut tenter de vivre"

Em tradução livre de quem apenas começou seus estudos no francês:

O vento sobe
Deve-se tentar viver.

Os versos de Paul Valery são a coluna dorsal e o cordão umbilical de Vidas ao Vento (Kaze Tachinu, no original), última animação de Hayao Miyazaki. Ao mesmo tempo em que dão delicada estrutura à elaborada narrativa, também conectam a uterina animação do diretor japonês à realidade, ao público e, principalmente, à si, estabelecendo uma forte ligação autor-obra.





Le vent se lève


Diferente de todos os seus filmes anteriores, Vidas ao Vento não possui quase nada de mágico ou sobrenatural. Miyazaki, conhecido por seus monstros mitológicos, seus universos impressionantes e maravilhosos, seu dom natural para lidar com o sobrenatural, opta por retratar a vida real de um personagem real, tornando Vidas ao Vento sua primeira e única cinebiografia, apesar de bem ficcionalizada, é verdade. As partes mágicas se concentram nos sonhos do personagem, que nos lembram a incrível capacidade criativa do diretor, ao mesmo tempo em que nos coloca uma firme clivagem em relação às suas outras obras: se nelas a magia e o incrível eram comuns e difusas no "mundo real" em que seus personagens se encontram, agora, em Vidas ao Vento, eles pertencem ao mundo dos sonhos. Mas isso não despe o filme e o mundo nele retratado - o "nosso" mundo - de encanto. Pelos olhos e mãos de Miyazaki, o cotidiano e o mundano ganham delineações maravilhosas e cativantes. A crueza da dor e da tristeza das tragédias, nunca escondidas em seus filmes, é pronunciadamente bela. Os sonhos e conquistas, distintamente doces.


O diretor conta a história do designer de aviões Jiro Horikoshi, que projetou o Mitsubishi A6M Zero durante a Segunda Guerra Mundial. O modelo foi considerado um marco na história da aviação por seu design avançado e de grande eficiência. A história de Jiro, no entanto, se funde com um Miyazaki também, em parte, ficcionalizado. De fato, penso que talvez não seja possível compreender todo o significado do filme sem conhecer um pouco da história do diretor.


Hoje com setenta e três anos, Hayao Miyazaki nasceu em uma época em que, há não muito tempo, o ser humano havia descoberto a possibilidade de voar. Ele pertence a uma geração que provou em primeira mão as maravilhas e os encantamentos da aviação incipiente. Imagine o leitor o assombro ao ver um avião pela primeira vez, o quão incrível não deveria ser aquilo que hoje é tão natural para nós? O quão fascinante? Somando-se a isso, seu pai era dono da fábrica de peças de aviões Miyazaki Airplane, o que o aproximou ainda mais das asas. Sua paixão por aviões está evidenciada ao longo de sua filmografia, onde há grande recorrência à aviação e à paixão de seus personagens por voar. Voltando rapidamente ao tema do filme, a fábrica de seu pai fez peças para o Mitsubishi A6M Zero, projetado por Jiro Horikoshi, o que já estabelece um contato inicial entre autor e personagem e dá ao filme outro significado.


Percebe-se logo que Jiro é Miyazaki e Miyazaki é Jiro. Isso fica mais evidente quando temos em mente que o diretor controla todos os passos da produção de seus filmes, muito embora tenha uma equipe que o auxilie. Assim, ainda utilizando-se bastante da animação à mão, Miyazaki fiscaliza frame por frame para ter certeza que seu filme atinja seu padrão de qualidade. Isso e o fato de seus filmes e seu Studio Ghibli terem feito sucesso em seus próprios termos e não em outros, ditados pela indústria cultural, permitem ao diretor controle absoluto de suas criações. De fato, não é apenas Jiro Horikoshi que é Hayao Miyazaki, mas cada aspecto do filme, cada cena, cada diálogo, cada detalhe, cada soprar de vento.

O vento, aliás, localizado na centralidade do filme, é a força motora que faz o enredo caminhar. É o vento que leva e carrega e é trazido pelos aviões. É o vento que, participante ativo, proporciona os principais eventos na vida do personagem. Repetindo: o vento é a força motriz que carrega o enredo, mas não só. É também o que dá força aos personagens, sobretudo à Jiro.


O vento que sobe é o sopro na alma.


Il faut tenter de vivre

Tendo nascido durante a Segunda Guerra Mundial, Hayao Miyazaki, mesmo muito novo, experimentou os terrores da guerra quando sua cidade foi alvo de bombardeio, o que acabou destruindo-a em um incêndio. Tinha quatro anos então, mas jamais esqueceu o crepitar e o alaranjado do fogo no céu escuro. Talvez por isso tenha adotado uma filosofia humanista e pacifista de forma tão firme, coisa que se reflete constantemente em seus filmes. Vidas ao Vento dialoga com isso. De fato, ao escolher um personagem histórico como protagonista, personagem este que fabricava aviões para um Japão em guerra, Miyazaki fez uma escolha provavelmente proposital, não apenas para homenagear aquele personagem, mas também para discutir os aspectos morais de se construir aviões como armas de guerra, mas, ao mesmo tempo, ser contra a guerra. Lembrando que o próprio Jiro Horikoshi, o histórico, era contra o envolvimento do Japão na Segunda Guerra Mundial. Em uma de suas anotações, Jiro escreve sobre a guerra:


"O Japão está sendo destruído. Não posso fazer outra coisa senão culpar a hierarquia militar e os políticos cegos por arrastar o Japão para este caldeirão infernal de derrota"


Como em outros filmes, Miyazaki entra numa área cinza da moral. Sabendo que se faz armas de guerra, é certo continuar desenhando e fabricando aviões e, mais ainda, projetando inovações que melhorem sua eficiência? A mim, Jiro responde, secretamente: Meu maior sonho é fazer aviões. Foi com isso que sonhei quando criança e era isso que respondia quando me perguntavam o que seria quando crescer. Não achava que aviões servissem como armas, pelo contrário, sonhava com grandes aviões que transportassem centenas de pessoas pelo mundo. Aviões são lindos, sussurrava, para quem quisesse ouvir, são os homens que fazem deles armas de guerra, mas isso não significa que não devamos construí-los. Aviões são sonhos que eu tenho a oportunidade de tornar realidade!

Jiro sabia das consequências de suas criações: "nenhum deles voltou", diz, ao final, melancólico e exausto, sobre seu Zero, sua obra prima, mas sabia também que deve-se tentar viver, da melhor forma possível.

Em seus sonhos, Jiro dialoga com um dos pioneiros da aviação, Giovanni Caproni, que lhe questiona, ao ser confrontado com o mesmo dilema moral: "você prefere um mundo com ou sem pirâmides?", quer dizer, as coisas grandiosas, que são feitas a custo de sangue e suor, merecem ser feitas?

É uma questão polêmica e, quer concorde com ela ou não, é uma discussão que o diretor está propondo. Em Vidas ao Vento, não há espaço para o maniqueísmo: as coisas são como são e os julgamentos de valor são de cunho pessoal e subjetivo, não inerentes à realidade. Em certo momento do filme, Miyazaki (que, aliás, tem diploma em Ciência Política e Economia) destaca a enorme desigualdade social no Japão da época, que investia fortunas para fazer aviões de guerra enquanto seu povo passava fome. As coisas são como são e a vida, muitas vezes, é uma triste realidade, violenta em muitos sentidos... Mas, como sempre, deve-se tentar viver.

Vivendo


O fato é que o último filme de Miyazaki, e eu digo último não apenas por ser o mais recente, mas também pelo diretor ter anunciado a aposentadoria após seu lançamento, nos transporta diretamente para o Japão da primeira metade do século XX: aquele país agrário, atrasado tecnologicamente, que viria a se tornar um importantíssimo pólo tecnológico mundial. Vemos os costumes mudando: as ideias e hábitos ocidentais se infiltrando na cultura tradicional japonesa, a carne tomando lugar do peixe, o café substituindo o chá... um retrato muito vivo de uma época passada. E, acima de qualquer coisa, com personagens muito vivos, com emoções e desejos e falhas muito, muito humanas.
Vidas ao Vento, com sua belíssima animação, de movimentos fluidos (sobretudo os movimentos do vento, maravilhosamente trabalhados) e estonteantes paisagens, nos carrega em seu voo pela vida de Jiro Horikoshi e pela alma de Hayao Miyazaki e nos presenteia com um tocante presente de despedida do diretor: uma verdadeira ode à vida.










quarta-feira, 5 de março de 2014

Orson Welles e a verdade

Quando Orson Welles explica, logo no início de F for Fake, que é um filme sobre mentira, talvez ele estivesse subestimando a potência da película ou, talvez, o mais provável, fosse apenas para não confundir o espectador, poupá-lo por um momento ao menos, para mantê-lo no cinema ou de frente à televisão por tempo suficiente para dar-lhe os sutis tapas de luva de pelica e, então, os socos no estômago. Não, o documentário-narrativa de Orson Welles não é sobre mentira, é sobre algo infinitamente mais complexo que isso; é sobre a verdade - e tudo o que ela traz consigo.



"Quase toda história é um tipo de mentira"

Comecemos pelas bases. Nosso entendimento do que é mundo, e, talvez mais importante, do que não o é, deriva da nossa noção de realidade. A realidade é constituída, assim, pelas coisas que são (as verdades) e as coisas que não são (as mentiras). Uma mentira, é claro, não poderia nunca ser parte constituinte da realidade pois ela não passa de um disparate, uma fábula, uma coisa qualquer que não é e nem nunca foi; uma criação. Será mesmo? O filme de Orson Welles parece insinuar coisa diferente. De fato, o filme não só nos diz, como nos prova que a realidade pouco ou nada tem a ver com a "verdade" - essa coisa que, ora, sejamos sinceros, quem realmente conhece? Não, leitor, a realidade é realmente uma fina - muito fina - manta de interpretações subjetivas. Estas, por sinal, jamais serão enquadradas em conceitos maniqueístas e simplórios como "verdade" ou "mentira".
Decompondo o pensamento: realidade é manta porquê é formada coletivamente, por fios e fios - como estes fios são direcionados, que padrões eles formarão, tudo isso veremos depois - que se entrelaçam dando uma sensação de certa uniformidade no entender das coisas, de um mesmo padrão de referência - para aqueles que formam a manta, ao menos. E é fina por sua fragilidade absoluta, por seu enlace ser de tal forma frouxo que o pequeno puxar de cordas pode resultar em total desmoronamento da maioria se não de todos os padrões formados. Não acreditamos em verdades, leitor, nem as seguimos por que elas são incontestáveis. Nada existe de incontestável nesse mundo. Acreditamos em qualquer coisa que nos digam e que nos faça sentido e que nos dê a base de sanidade suficiente para vivermos em coletividade. A realidade é, afinal, um bem (que pode tanto ser mal) comum à humanidade... Talvez menos... Mas certamente comum à comunidades e nacionalidades, e por aí viajamos. Estou tentando dizer que a realidade é algo que se constrói coletivamente com certezas coletivas e, para isso, cada manta, cada período sócio-histórico haverá de ter seus dispositivos de coesão, a fim de manter os fios frouxos o mais presos possíveis - e aí o leitor dê seu entendimento de "preso" como quiser.
Desde que viramos modernos, desde que olhamos o mundo positivamente (sim, estamos falando de Comte), desde que passamos a viver no cientificismo absoluto, donde todas as "verdades" (olha ela aí de novo) têm de ter o aval científico... Ou seja, mais ou menos desde o século XVIII/XIX, um dos mais importantes mecanismos de validação da realidade (das nossas certezas coletivas) é o "expert", o especialista. Se teria começado nos campos científicos propriamente ditos, desde a Física às Ciências Sociais, não tardaria a invadir outros campos de conhecimento. Afinal, o século XIX é o período em que Deus morre e Rimbaud foge da Europa. Tantos experts avaliando poesias, romances e quadros. Os experts que condenariam os pintores impressionistas e, bem mais tarde, no Brasil, os jovens da Semana de 22. Na era da Ciência, o encantamento está proibido e as "verdades" são mecânicas.
Mas chega disto... deixemos claro que os especialistas são um mecanismo de legitimação de discurso, são aqueles que dão a palavra final. São eles "instrumentos da verdade" e, tal como uma afirmação científica precisa de base e provas, os especialistas as provêm, tornando seu veredito tão imparcial e certeiro quanto a lei da gravidade (e, quem sabe, talvez seja). Como somos tolos... como somos ingênuos... No início do filme, Orson Welles nos diz "Quase toda história é um tipo de mentira". Deixe-me modificar a frase ligeiramente, sem retirar-lhe a essência: Quase toda a realidade é, de certa forma, imaginada.

A sociedade de consumo; O mercado; A demanda; A "Arte"

É claro que os experts não são as únicas variáveis que formam as certezas e verdades do nosso tempo. Desde o advento do capitalismo, de mãos dadas, aliás, com o pensamento racional (de razão instrumental, de lógica de lucratividade) que cresce com o protestantismo burguês e, então, dá origem a um cientificismo patricida (visto que mata Deus), cresce a lógica de mercado. A razão filosófica é, em certa medida, substituída por uma razão instrumental, que visa, antes de mais nada, maximizar os lucros e minimizar as despesas. A propriedade privada cresce cada vez mais em relevância e é claro que isto influenciaria pesadamente o mundo artístico. De repente a arte passa de uma encomenda ou uma obra previamente combinada (um retrato ou uma representação bíblica, por exemplo) para ser um produto a se expôr em galerias, negociado e barganhado. De repente era preciso agradar a esse novo ser abstrato mas que soa tão real (tão "verdadeiro") a tantos: o mercado. Refém de vontades e ideais estéticos alheios, o artista fazia o que podia para sobreviver. Se houve aqueles que conseguiram, mesmo contra críticos e especialistas, se consagrar, houve aqueles que cederam às vontades do tal mercado. É claro, precisamos todos nos alimentar. Mas o que esse mercado queria? Quais eram seus valores estéticos? Isto é fácil de responder, leitor. "Há" algo que se chama Arte, com "A" maiúsculo. Sobre isso, o historiador da arte, E. H. Gombrich nos diz

"Uma coisa que realmente não existe é aquilo a que se dá o nome de Arte. (...) Na verdade, Arte com A maiúsculo passou a ser algo de um bicho-papão e de um fetiche. Podemos esmagar um artista dizendo-lhe que o que ele acaba de fazer não é 'Arte'".

"Arte" é, na verdade e principalmente, os valores estéticos hegemônicos. A Arte é produto e ferramenta do discurso da verdade. Ao mesmo tempo em que decorre dele, isto é, decorre do que dizem os especialistas, é também ela própria discurso (pois é comunicativa e exemplificadora). Ora, a ironia ignorante a que se submetem todos os defensores da Arte verdadeira é o fato de que a mesma foi tantas vezes coisas diferentes quanto foi aquilo a que ela mesma se opunha. Exemplo fácil disso foi o movimento impressionista, que se não foi considerado Arte em sua época, hoje é coisa finíssima da mais rara qualidade. Ah, raridade! Chegaremos lá! Imagine você, leitor, sendo artista e tendo que lutar contra o fetichismo "Artístico", contra o mercado, contra o dinheiro com o qual se alimenta e se obtém teto.
E, se os alvos do fetichismo mudaram, ele continua vivo e, talvez mais forte ainda, na primeira metade do século XX. Chegamos onde começam as histórias de nosso filme (sim, ficamos tempo demais sem tocar no filme! Iremos já para ele).
Se a arte há não muito tempo histórico passa a ter valor de propriedade privada, imagine como funciona com a Arte, sendo fetiche, na sociedade de consumo já consolidada do século XX, onde a máxima da oferta/demanda reina... Ora, se a oferta de Arte é parca (considerando a óbvia raridade de quadros originais), e se as demandas partem dos setores mais ricos da sociedade, não é de se admirar que o preço de tantos quadros atinjam seis números. Mas o que leva alguém a pagar tanto por uma tela? Se antes ter arte e, mais ainda, Arte, já era sinal de poder aquisitivo, em nossa sociedade de consumo, a Arte enquanto fetiche altamente procurado e pouco ofertado se torna um poderoso objeto de poder. Ter um Manet ou um Rafael ou um Van Gogh original é símbolo de imenso poder, é como um troféu a ser pendurado na sala de estar.
Com a Arte em tão alta estima, quem estaria interessado nos novos artistas que estão surgindo, podendo ter um Modigliani? E que outra escolha teria o artista talentoso passando fome, se suas telas não vendem, além de fazer... Arte?

Falsários; Os fios soltos; Enfim, o filme

Welles nos diz que seu filme trata de mentira... talvez, mais apropriadamente, de mentirosos, falsários, "fakers", em termo estrito e abrangente... É claro, isso não exclui ninguém (exceto, talvez, seu co-produtor, Richard Drewis) da categoria, mas centra-se na história de alguns personagens seletos. E nos responde sem termos de perguntar: mas, afinal, o que forma um falsário?
Tanto Elmyr de Hory, quanto Clifford Irving e o próprio Orson Welles tiveram trajetórias de certa forma parecidas. Estes são três dos personagens explorados na película. Tanto Elmyr quanto Welles começaram sua carreira artística como pintores. Fracassados. Famintos. De repente alguém vê um Matisse ou um Modigliani pintado por Elmyr e pede para comprar. Ora, que mal teria? Elmyr precisa comer! Vende. E, então, vende mais. E mais. E percebe que, se assim é o único jeito de sobreviver fazendo arte, que assim o faria. Tinha talento, sabia disso, poderia passear entre Picassos, Monets e o que mais viesse. Tinha talento e nunca poderiam dizer que o que fazia não era arte! Não é verdade? Não, é claro que não! Se descobrissem que sua Arte não é Arte, mas uma falsificação, perderia todo o seu valor. Mas chegaremos a isso. Falemos de Welles. Ele que, diferente de Elmyr, descambou para a mentira dos palcos. Disse ser um famoso artista americano e, ironicamente, se tornou um. Quase uma profecia que se auto-cumpre. Com Clifford Irving não foi tão diferente. Escritor de ficção mal-sucedido, viu na necessidade a urgência de fazer outra coisa. E passou a escrever biografias, até seu magnum opus: a biografia do magnata Howard Hughes que, para sua (in)felicidade, foi descoberta como falsa. Veja, leitor, estamos falando de três artistas de campos distintos (mas nem tanto) da arte que, em meio à necessidade, reconheceram o que procurava o mercado, e fizeram, cada um ao seu modo, Arte. Mas ainda mergulharemos nisso.

O fato é, leitor, que nossos falsários, cada qual de um jeito, abalaram as bases frágeis da realidade. Talvez o que mais exemplifique isso seja o caso de Orson Welles.
Em seu tempo na rádio americana CBS, Welles fez uma representação da Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, causando uma histeria coletiva jamais vista. Talvez sem saber, Welles utilizou as ferramentas e dispositivos de legitimação da verdade: o rádio, meio consagrado de comunicação em massa e, quiçá, visto como imparcial; a palavra de falsos "experts", que afirmavam, por exemplo, que os invasores se tratavam de marcianos. Construiu assim, verdades que contrariavam as verdades estabelecidas. Construiu, palavra por palavra, imagem por imagem, fio por fio, uma nova realidade, e isso era aterrador. A histeria foi generalizada. Aparentemente, uma mulher afirmou ter sido atacada por marcianos: "Foi horrível", disse. E quem poderia duvidar? Por alguns momentos, marcianos de fato atacavam a Terra.


Orson Welles puxou o fio... e aquela fina manta se desfez completamente. Ninguém pensaria que seria tão fácil.

Ah, a autoridade. É infalível, pensamos, a palavra daqueles que detém a verdade. Elmyr de Hory e seu biógrafo Clifford Irving mostraram de forma concreta o quanto isso é, com o perdão da palavra, mentira. Das grandes frases ditas no filme, uma se encaixa muito bem no nosso próximo segmento. Coloquemos como subtítulo, sim?

"A questão não é se é falso, mas se é uma falsificação boa ou ruim"

Lembrando a situação da Arte, como fetiche, troféu e objeto de poder (serão sinônimos?) em nossa sociedade, existem pelo menos dois elementos que dão a autenticidade para que a arte seja Arte, e estes são os museus, isto é, as "instituições da verdade", onde podemos conferir "o que presta" e está incluído na estética hegemônica. E os já mencionados especialistas, que servirão de mediadores entre a arte e a Arte pendurada em museus e coleções particulares. Em termos de mercado e valor, e buscando referência no filme, existe uma equação simples que podemos usar.

"O valor da obra depende de opinião. A opinião vem dos experts."

Parafraseando Elmyr de Hory, eles são aqueles que dizem se uma coisa é boa ou ruim. A confiança na palavra dos especialistas é tanto que um simples acenar com a cabeça pode fazer um quadro valer milhões - ou reduzi-lo a nada. São eles extremamente importantes no discurso fetichista Artístico, sua palavra tem quase tanto poder quanto o objeto em si, senão mais, já que ela pode colocar o próprio objeto em dúvida. Essa confiança na infalibilidade do expert será abalada, senão destruída com Elmyr e, depois, com Irving.
Ora, foram as falsificações de quadros por Elmyr submetidas a avaliação de especialistas e autenticadas como originais, assim como as assinaturas presentes nos documentos da biografia confessamente falsa feita por Irving.
Mas, então, Welles nos incita, se aqueles que se dizem portadores da verdade, aqueles que têm o poder de declarar uma coisa como autêntica ou não, aqueles que dizem o que é Arte... se eles erram... Se eles mesmos não dão conta de fazer um julgamento definitivo... Então quem é o farsante? Quem pinta o quadro ou quem mente ao dizer que diz a verdade? E, novamente, quem é o especialista?
Elmyr e Clifford Irving puxam o fio de tal maneira que só se percebe que a manta desabara quando já é tarde demais. Ambos entenderam o intricado enlaçamento de fios e o arremataram bem na estrutura, bem onde os discursos se verificam e se tornam verdade. Foi um golpe devastador na prepotência dos experts e dos conhecedores e em seu sistema fantasmático. E de repente, perguntas surgem para o espectador confuso: "mas então... se não possui valor intrínseco, se pode ser forjada e confundida, se pode ser imitada e reproduzida, o que é Arte? Será que ela sequer existe?"

Estigma

É claro que no mundo real as coisas não funcionam assim. É mais fácil reconhecer nossos falsários como falsários do que como artistas e abandonar todo um sistema de valores sobre o qual uma certa realidade é erguida. Carregam, então, o estigma de falsificadores, de golpistas, de mentirosos. A ironia da situação é, como nos elucida Welles, o fato de Irving ter escrito a biografia de Elmyr, sendo, então e talvez, falsa a... falsidade (?) do pintor. Certamente, ao nos deixarmos levar por estigmas e mentiras e verdades, acabamos em um cheque-mate. Vamos nos ater aos fatos tal como nos foram contados pelo filme. Se Irving lucrou com suas biografias, falsas ou não (é questionado se Howard Hughes, o da biografia forjada, realmente existiu ou se, ao menos, estava vivo na época em que desmente sua biografia), é certo que o lucro de Elmyr mal se compara ao lucro que obtiveram os negociantes de arte em cima de suas falsificações (sequer a casa onde morava era sua propriedade). É certo que suas falsificações não eram cópias dos originais, mas imitações de um estilo, o que por si só já demonstra seu talento, sua capacidade de passear por estilos diferentes. É certo também que seu estilo de vida como falsificador veio em decorrência de uma demanda de mercado e de uma necessidade de sobrevivência; que tentou sem sucesso vender seus próprios trabalhos. Elmyr foi mão-de-obra da indústria da arte, foi renegado e explorado e, após sua morte, suas obras passaram a ter valor enorme, o que apenas demonstra a cretinice e a hipocrisia da mesma indústria, o quão vil e carniceiro é o fetiche da Arte. Eis que o ciclo se forma, falsificadores mais novos passam a falsificar o falecido falsificador.

Novamente, a realidade

Pro final do filme, Orson Welles anuncia: "Pelos últimos 17 minutos, eu estive mentindo freneticamente" (perdoe pela péssima tradução, mas é o que temos). É o soco no estômago do telespectador, depois de tantos outros. Atônito, ele se pergunta: até que ponto foram as mentiras? O quanto do que acabara de ver realmente era "verdade"? O filme de Welles, classificado como documentário, vai contra diversas formas estéticas padrões de um documentário. Ele tem narrativa intensa, personagens expressivos para além das "testemunhas documentais", construções de sequências, usando pesadamente a edição e outros truques e mágicas do cinema e, o que é pior, ele mente! Sua metalinguagem fica ainda mais evidentemente pronunciada com a declaração: "Eu menti!", terrível num documentário.
E então o espectador sorri. É claro que mentiu, e porque não o faria? A realidade é construída através de discursos, de verdades que compramos, que aceitamos como... verdadeiras. Como alguém que evidencia isso poderia sequer tentar apresentar um quadro de verdades isentas e imparciais, como nos tentam fazer os documentários, como fazem os discursos hegemônicos? Estamos diante daquela fina manta e Welles insiste para que puxemos o fio. O filme todo é um discurso, o que não o torna menos real que nada, pelo contrário. Sua honestidade em assumir-se como o que é, é, para mim, louvável.

"Talvez não seja tão importante assim"

Morreram os encantamentos e, com eles, a celebração da arte... E a Arte, enquanto fetiche, acompanha o movimento, apoiando-se nos corpos caídos da beleza e do desprendimento para se levantar, vigorosa, com o auxílio do mercado e dos especialistas. Caem as obras, ficam os nomes, ficam os fetiches.
Morremos, diz Welles... E a arte é nosso legado... é o que deixamos para quando não estivermos... e algumas obras durarão mais, outras, menos, mas tão certo quanto a morte, elas também desaparecerão, originais ou falsificadas. Diante deste cenário, que talvez seja a única verdade com que podemos contar sem dúvidas, talvez... talvez um nome não seja tão importante assim...
Recita:

"Nossas canções serão todas silenciadas
Mas e daí?
Siga cantando"

Completo: Teremos tanto assim que podemos rejeitar nossos artistas (e sua arte) em nome de um fetiche, em nome de um emaranhado de fios frouxamente enlaçados, mesmo que por... especialistas?





sábado, 18 de janeiro de 2014

curto e incompleto papo sobre Ninf()maníaca - parte 1


  • na preguiça e na falta do que falar e na incompletude do filme, sai um post que não é post, resenha que não é resenha, uma encheção de linguiça que não faz sentido mas que, com certa boa vontade, dá pra tirar alguma coisa. e é claro, não dissemos tudo o que temos pra dizer, mas isso fica pra quando sair a parte 2. boa sorte pra quem se aventurar...


  • Hoje
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    vini vidi vici
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    quase
    menos latim
    e mais
    ah n sei nada pra botar
    enfim
    vi ninfomaniaca
    e pra ser sincero n sei bem como opinar
    eu gostei
    mas acho melhor ver o filme todo antes de falar alguma coisa
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim! sim sim
    e eu vi o negocio q vc postou do o globo
    melhor do que tudo nessa semana hahahahahaha
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    hahahahaha
    achei mt bom
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    qdo ssai a parte dois?
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    n faço ideia
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sinceramente, o pequeno trailer da parte dois no fim do filme me chocou mais do que a parte um
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    chutando acho que a parte um é a construção do personagem e a parte dois a desconstrução
    pq olha
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    pra mim a joe ja ta meio desconstruida eu acho
    pelo menos no que ela se apresenta
    gostei da forma de dialogo meio jogo de xadrez entre eles
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    então, em dúvidas, e a gente segue esse caminho de desconstrução
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    ele meio q tentando encurralar ela
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    agora ela vai apresentar o total declínio, pelo menos parece
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    acho q sim
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim! e eu gostei das metaforas, apesar de saber que são dialogos forçados e impossiveis de acontecer, mas vamos lá camaradas, é um filme
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    e o mais interessante disso é que enquanto a gente vê a vida dela e tenta a entender
    a gente conhece ele, a partir das metaforas e das coisas da vida dele que enlaçam na dela e, além de tudo, como ele responde ao que lhe é apresentado
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    olha, revendo agora
    eu aqui, relembrando e falando sobre
    sinceramente gostei
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    acho interessante como ela mesma tenta se colocar sempre a partir da ninfomania
    e ele tenta desconstruir isso
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    direção, fotografia, roteiro, atuação, foi ótimo, não me aborreci em nenhum momento das três horas de filme
    só não gostei da musica tema que toca no inicio e no fim
    mas isso é o de menos
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    eu me aborreci em um momento
    quando o pai morreu
    achei q a atuação deixou a desejar
    eu adorei a musica tema
    hahaha[
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    não encaixou pra mim ahahahahah fui agredida pela musica tema
    poxa vida, mas eu gostei tanto da metafora com a obra do allan poe da casa de usher
    e o enlouquecimento, as fezes, o cara no chão
    vc não gostou de tudo isso ou da cena especial da morte?
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    eu tbm eu tbm
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    ela se lubrificando e tudo mais
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    nao eu gostei de tudo isso
    de tudo isso
    nao gostei da atuação da menina
    nao senti dor nela
    mas sei la
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    ah sim... sim
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    o problema pode ser eu
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    teria que rever pra te dizer
    ela foge pra transar, né? mas não sente prazer tbm. e ele morre e tbm não tem expressão, só a vagina se lubrifica
    e o tiozão tenta explicar esse movimento
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    esse sou eu não guardando o nome de ninguém
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    antes, quando o pai ainda nao morreu
    quando ele tem convulsoes e ela chora
    ela faz uns barulhinhos parecem guinchos de ratos
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    aaaaaaaaah realmente não me remete nada
    eu devo ter percebido
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    hahahahahaha
    convulsoes nao
    alucinações
    eu gostei... eu ia dizer que esse n é o melhor filme do lars
    mas nem acabou ainda
    entao prefiro guardar esse comentario
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim! aguardemos
    poxa cara, aqui a segunda parte sai dia 28 ou 29
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim...
    o que eu achei interessante
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    legendas demoram
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    mas aí vai demorar um pouco, o que é uma pena
    sim
    e tem q passar pelas censuras
    vc viu né, esse q a gente assistiu foi censurado
    censurado e cortado, mas aprovado pelo lars
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    imagina o que foi censurado,
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    ahm
    isso explica
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim, pelo menos apareceu na versão francesas o aviso
    não sei se no brasil tá sem censura
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    acho dificil
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    mas mesmo censurado, não tem o que censurar... tá tudo... ali
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    foram 3 horas aí?
    aqui foram 2
    haah
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    2h50, não?
    perai xo ver
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    haaaaah
    eles retalharam o filme
    vou baixar
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    nãããão
    errei rudemente
    1h58
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    aaaah benxadeus
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    o segundo que deve ser maior
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    benzadeus
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    veja como a frança é doida
    o filme é proibido pra menores de 13 anos
    ou seja, 14 anos já pode entrar
    é interessante a visão de "criança/adolescente" aqui
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    hahahahahahaah serio?
    aqui é 18
    hahahah caralho
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim! 13
    Aahahahahahahaha
    é assustador cara
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    e tem a versao sem cortes?
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    essa éa unica versão...
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    ah
    pena
    alias
    uma coisa q li em algum lugar
    e confirmei ao ver o filme
    esse é o filme "pornô" mais brochante da historia
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    o filme 2 tem 2h4m, sai aqui dia 29 de janeiro mesmo
    ahahahahah pq?
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    é como se o lars dissesse "meu filme n é pra tocar punheta"
    ah pq primeiro a menina principal é totalmente reta
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    ah sim sem duvidas
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    todas as cenas de sexo sao meio... meh
    mostra mt mas n é nada q
    sei la
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    e tem aquele espectro maldito, negro, do lars
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    pelo menos pra mim
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim, não fiquei nem um momento excitado
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    poizé
    tem gente reclamando disso
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    queriam porno?
    mas gente, é lars von trier
    olha
    tem um filme dele gente
    que ele bate com um MARTELO NO SACO DO CARA
    gente.
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    hahahahahaah
    é q mt da propaganda do filme foi feita em cima da parte erotica
    entao pegou mt gente de surpresa ver o sexo sendo tratado de forma até mesmo não erótica num filme chamado ninfomaniaca
    quer dizer
    é erotico
    mas nao erotiza
    sei la
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    eu acho que é ponto positivo
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    eu tbm
    ele é mt bom em manipular a gente
    a plateia
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    realmente não é um filme erotico, ao contrario!
    ninfomania, uma doença sexual
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    tive certeza disso qd vi dançando no escuro
    e o antiscristo
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    e se ele conseguiu passar isso, o não-erótico, que acho difícil numa cena de sexo mesmo sem mentiras, ou seja, ele negou o erótico, matou o erótico no meio de cenas de sexo explícito(!), me mostra que, bom, parabens sr lars
    levo a sério
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    to ouvindo a musica francesa q vc me mandou
    to curtindo
    acho q o bacana foi despir o sexo das putarias dos filmes pornôs
    aparece toda sorte de barulho nojento
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    aliás, eu achei linda aquele capitulo
    lindo*
    da aula de orgão, não lembro o nome
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    sim, do bach
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    puta construção cara
    eu senti tesão sim, sexual sim, mas pela obra, não pelo sexo
    essa eu realmente gostei
    os encadeamentos, as imagens, a música
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    mt bom mesmo
    bueno
    falamos só bem
    oq o sr tem a dizer de ruim?
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    vamos vasculhar
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    alem dos dialogos pouco verossimeis
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    os diálogos, acho bem forçado bem forçado as metáforas
    um amigo meu levantou que não gostou da narração, pq humaniza
    tanto que tem uma hora que o cara fala "mas agora vc não tá mais contando os fatos, vc tá se defendendo"
    e realmente é isso
    ele preferia que o filme passasse pela história dela mas sem narração em off explicando, de uma maneira mais visceral e portanto talvez mais agressiva
    discordo pq as palavras podem adicionar a agressividade de varias maneiras, discordo também pq acho que o que ela conta vale a pena e tem mtos momentos de beleza e reflexão e crueldade etc etc, discordo pq não conheceria a imagem do homem que é um personagem interessante
    porém concordo que é mto forçado, o encontro dos dois tbm é mto forçado
    talvez alonga-se em partes desnecessárias, mas o filme passou mto bem pra mim
    eu sinceramente gostei cara
    o que me diz
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    entao eu entendo ele mas discordo tbm principalmente pq pra mim o foco foi a imagem q ela tem dela mesma. eu geralmente nao entro num cinema ou vejo um filme com um objetivo em mente, eu espero pra trabalhar com o que o filme me dá
    e o filme do lars nao foi um filme de choque pra mim, como mt gente esperava que fosse
    entao nesse sentido ru discordo dele
    mãs
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim, não me chocou tbm...
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    perae
    pronto
    entao
    mãs sim, ao passo que concordo que mt coisa de lá parecia forçada
    principalmente as metaforas na minha opiniao
    e as associações
    eu acho q elas tiveram um sentido
    sempre tem ne
    entao n condeno tanto
    a minha critica mesmo pelo menos inicialmente tava q tudo na joe era visto sob a luz do sexo e da ninfomania
    mas cheguei a conclusao q como ela está contando a historia e ela q se ve dessa forma, faz sentido
    eu n sei, to construindo as coisas enquanto escrevo aqui
    ah ja sei
    parece q ela ta fazendo terapia
    isso é uma coisa
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    \sim!
    sim!
    é uma sessão de terapia
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    e a repetição dos personagens do lars
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    ela tá literalmente no divã
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    sim!
    com chá com leite
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    e ele na posição de psiquiatra
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    e é sempre o homem racional
    e a mulher emotiva, sexual
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    oq, claro, nao é verdade
    mas tá lá
    anticristo
    melancolia
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    etc
    deixa eu pensar aqui
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    dogville?
    não?
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    pois é
    tava pensando nele
    n sei
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    é impressão minha ou estamos fazendo um post do foda-me e não percebemos?
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    hahahaha possível
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    vamos dar prints aqui e enviar lá, foda-se o formato
    ahahahahahahah
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    hahahahaahah
    acho uma boa
    copia e cola, fica direitinho
  • Horácio Dib
    Horácio Dib

    sim! mas então, desenvolva-te
  • Breno Crispino
    Breno Crispino

    oquei. mas então...
    dogville tem mt da inocencia e da pureza da menina. ah, tem coisa q se repete sim... o rapaz era extremamente racional, apesar de se revelar depois um grande filho da puta... alias, dogville pra mim foi o filme dele q mais me arrebatou... """intelectualmente(??)"""
    nao se se essa é a palavra certsa
    certa
    mas é... nao tenho mt oq falar ainda
    vamos esperar a segunda parte?