Um blog livre, aberto e despretensioso de resenhas caseiras, discussões acerca de... qualquer merda, na verdade...

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domingo, 27 de janeiro de 2013

A espera e o milagre.



Tom Hanks e seu biquinho no poster do filme

     Lembro que quando assisti À Espera de um Milagre não esperava milagre algum e nem sabia o que era um Stephen King e mesmo em minha total ignorância (que muito não mudou) e desesperança (idem ibidem) o filme me atingiu como um raio, explodindo meu ser que transfigurava-se em gordas gotas de água e sal, quase um biscoito gigante pronto pra ser mergulhado em café borbulhante e engolido por saudáveis dentes cavalares, tamanha insignificância me senti, tamanha quantidade de água e sal lambiam meu rosto.

     Não que o meu chorar valha alguma moeda furada, para um cara que chora assistindo Adam Sandler, mas esteja certo que meu total silêncio e envolvimento valem alguma coisa no mercado negro.

Circus Mouse - the-green-mile Screencap
o caótico rato (não, não vou por fotos de infecção urinária)

     Ali me vi nos EUA dos anos 30, numa ala maldita de uma maldita prisão onde um simples rato e a infecção urinária do chefe são temas discorridos, importantes e odisseicos. Agradou-me muito o filme, mas ao revê-lo, encarcerado na jaula das minhas férias, percebi mais nuances do que antes, quando usava meus olhos desesperançosos e não-stephenkingianos.

     Os diversos temas abordados – velhice, morte e suas penas, vida e suas mortes, religião, racismo, preconceito, inocência, doença, criminalidade, etc e tal – desfilam de maneira plausível e inteligente entrelaçados no roteiro adaptado de Frank Darabont (que adaptou Um Sonho de Liberdade [1994] e O Nevoeiro [2007], ambos obras de King).

     Infelizmente, não li o livro, mas posso afirmar que após o filme a venda aumentou de maneira tamanha que a foto do pôster do filme apossou-se da capa do livro, fazendo muitos leigos não saberem dizer quem era o pai e quem era o filho. Espero que o Breno, outro Stephenkingologista, tenha o lido e assim, quem sabe, pode nascer uma “““matéria””” comparada à la top 10 e outras loucuras, portanto, cruzem seus dedos inexistentes.

sim, esse é o livro (com o biquinho do Tom Hanks para os leitores)

     Muito se há pra falar desse filme e em cinco parágrafos eu não disse nada (esse é meu poder especial: falar muito e não dizê-lo), vamos em partes então, provavelmente não vou atingir tudo que quero, mas passarei de leve, num cafuné simpático que não se nega. Um exemplo que chamou minha atenção nesse filme foi a atuação de Michael Clarke Duncan, que deu vida a John Coffey com sua excelente, desconhecida e despretensiosa atuação que foi conhecida nas esferas do Oscar e do Globo de Ouro, apesar de não ter ganhado, e que transformou milhares de pessoas em biscoitões de água e sal.

     Duncan morreu, aos 54 anos, e posso dizer que fiquei triste, pois criador se mistura com criatura e é algo mais forte do que nossos osteoporósicos braços humanos conseguem separar. Assim como John Coffey viveu pelo amor e morreu por uma morte envolta no amor de duas irmãs e de um psicopata (que nada mais é que o amor enlouquecido e elevado em todas suas potências), Michael sobreviveu um pouco mais movido pelo amor de sua noiva, que o resgatou da morte reanimando-o após uma parada cardíaca (imaginem a força de alguém a reanimar um corpo de 150 quilos). Não que eu acredite em milagres, mas se o milagre for amor, aquele amor que te injeta adrenalina, que te faz dar vida em troca da sua, pois muitos sabem que com a adrenalina e a força utilizada numa reanimação pode-se muito bem ter uma parada cardíaca você mesmo, posso dizer que fico um pouco bambeado nessas questões. Mas como o mundo real é real e cruel, e nas coisas reais e cruéis o amor, com todos seus poderes e invenções, não tem vez e é normalmente pisoteado por aquilo que tem que ser, Michael foi para o hospital e, enquanto todos estavam à espera de um milagre, faleceu, imortal nos olhos do puro e bobo John Coffey (o único papel que mostrou a capacidade desse ator, infelizmente). Disso tudo, posso dizer que Deus é um péssimo roteirista e que meu fluxo de pensamento é uma bagunça.

John Coffey assistindo os anjos e me transformando num biscoitão

     À Espera de um Milagre é um filme que vai te apaixonando aos poucos e te destruindo aos poucos, para que, quando perceba, não há mais muito em que se apoiar, pois se os seres vivos existem pra morrer que esperança resta? E se todos nós sabemos dessa finitude escancarada no final do tudo, o que esperamos e do que esperamos esse milagre? A irônia sagaz de Stephen King está pincelada levemente em conversas religiosas, nos moldes dos personagens e suas facetas, na total destruição do milagre, porém não da sua espera, o que é o mais importante. Porque é a espera que se faz caminhar, deslumbrado pelo saliente corpo invisível e intocável do impossível, tateando e descobrindo o mundo na cegueira do querer improvável. Apesar de ser cruel e paradoxal, é a espera que move, é a esperança (palavra que tão pouco recorro e que desacredito, talvez por isso seja tão sedentário e desconhecido). Paul Edgecomb consegue o milagre, mas vemos que não há prazer, que não há deleite, que às vezes a espera(nça) é melhor do que o milagre em si.


Paul Edgecomb

     É um filme tocante, em minha opinião fecal, e gastei tantas palavras tentando prova-lo que nada falei, peço paciência e toda a boa vontade que não tenho. Uma das cenas que mais me puxam pela orelha, que mais fazem meus olhos brilharem com o líquido da nostalgia inexistente, com a falsa memória de um passado morto, que mais me enervam com a sabedoria de que tudo vai piorar, e vai sim, porque Stephen King é um filho da uma puta, é a bela cena de John Coffey vendo os anjos dançarinos cantando Cheek to Cheek. E já que não falei nada até agora, continuemos calados, ouvindo essa canção e vendo os anjos dançarem.

     

sábado, 26 de janeiro de 2013

O que é arte? O que é poesia?

O que é arte? Poesia está em todo lugar e em todos ou é um dom de poucos? A perspectiva forma o poeta? O suor? A sensibilidade? E essa perspectiva, esse suor, essa sensibilidade... estão eles ao alcance de qualquer um? Antônio Abujamra entrevista Michel Melamed em seu programa Provocações; uma das melhores e mais produtivas entrevistas que tive o prazer de ver (viva a internet).

Michel é a cara da poesia irreverente, solta, pós-moderna ou que o valha, que não se prende a títulos, não se prende a nada, mas clama como um vulcão interno por se expressar, por entrar em erupção em lava quente de verborragia e imagens. Abujamra é o clássico, culto, literário, acredita que poesia é para aqueles que são verdadeiramente poetas. Mas o que é ser poeta e o que é "poetar"? A poesia está em quem compõe ou em quem recebe? Ou é a mensagem própria, aquele intermediário entre um e outro? Talvez seja isso, afinal, aquele elo que consegue unir duas pessoas que sequer se conhecem de uma forma tão forte, tão intensa, tão... emocional... 


Postei isso alguns dias atrás no meu facebook e é com essa discussão que gostaria de fazer meu post inicial do blog. O que é poesia, o que é arte, etc... são temas que recorrem nas discussões que tenho com o Horácio e, espero, virão à tona nesta humilde página que, por mais que se proponha a ser um lar de resenhas caseiras, é também um espaço livre para discussão. Bueno... segue a entrevista, dividida em três partes:





Parte 1




Parte 2



Parte 3