Um blog livre, aberto e despretensioso de resenhas caseiras, discussões acerca de... qualquer merda, na verdade...

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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Green Lover (por Leo Ayuso)

Em 2011, eu acho, minha cidade, Niterói, fez um festival de música latinoamericana, na qual o nosso Paulinho Moska recebeu alguns convidados, entre eles, o argentino Lisandro Aristimuño. No show do Paulinho, deu tudo errado: a chuva caía torrencialmente fora e dentro do palco (era um palco montado na praia), colocando os equipamentos e até os artistas em risco. Fim. O show foi interrompido. Mas Lisandro ainda se apresentaria no Theatro Municipal de Niterói e eu já tinha sentido um gostinho. Gostei. Fui ver o show do moço... inacreditável, simplesmente indescritível. Lisandro sozinho tem uma capacidade inacreditável de construir uma atmosfera completamente imersiva com suas músicas. Foi quando ele anunciou, e eu meio que entendi, no meu espanhol/castelhano meia boquíssima, uma música que fez quando conheceu e conversou com as Madres de la Plaza de Mayo, as mães que perderam seus filhos na rigorosa ditadura. Lisandro murmurou alguma coisa, que ficou repetindo em looping com o troço-de-musico-que-repete-som dele. Não fez sentido. Murmurou mais uma e mais uma e o som do violoncelo que você pode ouvir abaixo foi feito inteiramente com sua voz. Quando a melodia tomou forma, meus olhos se empoçaram. Quando começou a cantar, já estava em outro lugar. Música maravilhosa e, catando ela outro dia, me deparei com essa "resenha" que achei tanto parecida com as nossas "resenhas" que resolvi pôr aqui, sem pedir mesmo, em espanhol/castelhano pra não estragar e é isso. 







"Fieldsa recomendó esta canción: “Es uno de mis temas preferidos de Aristimuño, si bien está dedicado a las Madres de Plaza de Mayo y su lucha, creo que la letra puede adaptarse a otras historias. Me quedo particularmente con esa frase que dice 'llevo la luz que nos despertó'"
La música de Lisandro te va depositando de a poco en una hamaca de algodón, pero no te lanza sino que te lleva flotando de a poco con aroma a polen en el aire y arcoiris de emociones a los ojos.
Su variedad sonora es como millares de caleidoscopios de mil formas y colores que te seducen con suavidad, con ternura, con amor, con ideas.
Es constante esa mezcla de tristeza y melancolía que te enjuga el lagrimal pero que a la vez te carga el alma de esperanza y buenos augurios, es un de enlace de sentimientos y pensamientos que parece de ensueño.
Tantos matices, tantas formas que se unen y se mezclan como acuarelas pero que nunca llegan a fundirse totalmente. Son todo uno y son casi nada, ese es su atractivo, el individualismo y la unión, todo junto convive.
Su inmedible capacidad compositiva la corona con una voz de terciopelo que encanta cual sirena y, como Ulises, nos atamos a la silla para recrear la Odisea homérica e intentar no irnos a otra parte, al menos no hacerlo más que con el pensamiento que ya resulta inevitable cuando le das play a la obra de Aristimuño.
Todas esas armas terminan por decretar con la fuerza de la convicción y la arremetida del talento que el pop no se define por un conjunto de rimas naifs y sonantes  que acaban en edo, ado, udo. En cada canción, en cada disco, Lisandro golpea las puertas de la mentira.
Green Lover es una clara referencia a una huella en la historia argentina cuando anuncia que vienen por él, que dará a luz con los libros como bandera. Pero también puede ser una canción con ideas mínimas, letra detallista y minuciosa junto a una armonía incandescente que describen una historia cotidiana que todos supimos atravesar alguna vez: entre el desencuentro y lo inentendible de un fracaso; y la expectativa y el anhelo de algo nuevo.
Entre medio se cuela un disco de los Beatles junto a una tapa del flaco, unas fotos que llorás y una carta de cosas no dichas, y ¿por qué no? una botella para olvidar y volver a empezar.
Mientras, Aristimuño sigue regalando un repertorio sin lugar para recortes en la ilusión de aquellos que creen que el medio local bastardea las expresiones artísticas, para no estar donde la música “se convierta en un envase descartable”.
Como suele suceder con Lisandro, Green Lover es una de esas canciones para días de lluvia pero que a la vez le hacen cosquillas al alma y ponen a bombear el corazón."

Por Leo Ayuso
leoayuso@undiaunacancion.com

terça-feira, 13 de maio de 2014

Memento Mori e reflexões sobre a morte

Memento Mori - Lembra-te de que és mortal;



O que é a morte? Por que morremos? Por que tememos tanto morrer? São perguntas sem resposta, mas que são também inevitáveis. Em Memento Mori, um documentário genuinamente horaciano, essas e outras questões serão exploradas. Dessa vez não tem resenha, a proposta é outra: a reflexão sobre a finitude. Divirtam-se!







A morte é o real contraditório que nos força a enxergar a vida (o caminho em aberto que temos pela frente) com a avidez e vontade de quem tem pouco tempo para percorrê-lo. A morte torna nossa vida imaginada e, com isso, cria nossos sonhos e utopias. Temos pouco tempo.





Certa madrugada me veio:

"A vida é o universo pulsante


A morte é parte da vida, não é exterior a ela e muito menos é seu oposto. -> a morte deriva da vida ou é parte inerente dela?

A manifestação quanto à vida é possível? Pois a manifestação em si já é vida.

O universo pulsante não existe, a vida sim. A vida é o universo pulsante e a relação não é recíproca. Isto por que a vida é e sempre será prioritária em qualquer relação. Ex: A vida é um bocejo. A vida é uma árvore. A vida é uma estrela. Qualquer coisa que represente algo será vida, exceto se estiver isolada ao ponto de não se relacionar com absolutamente nada, nem ela mesma. Neste caso será Deus. A vida, como prioritária ao complexo sistema de relações se coloca acima de todas as coisas. A vida é, portanto Deus. No entanto, a vida não pode ser uma entidade, visto que por mais que prioritária, não pode representar a si mesma, ou seja, se enclausurar, se embarreirar, para começar porque as barreiras fariam parte da própria vida e, depois, pois sua extensão é tal que conceber seu fim é dar-lhe sobrevida. Entender algo fora da vida, isto é, do prioritário ao universo pulsante é simplesmente contraditório com a própria noção de prioridade sobre tudo. Não há externalidades e, portanto, não há entidade. A vida é, então, Deus em sua não-forma solta, inisolável (sim, estamos criando neologismos aqui, ou seja dando vida às palavras, ainda mais além, dando prioridade de existência a elas), mas irrelacionável pois não há com o que se relacionar.

Ok... resta a questão da morte enquanto parte constituinte da noção solta de vida ou derivada dela. Não se pode conceber a morte como "tudo que é externo à vida", para começar pelo simples fato de entendermos a morte, e, além disso, pela evidência óbvia do imenso - IMENSO - impacto que a morte tem sobre a vida. Se apenas considerarmos nós, seres humanos isolados conceitualmente para fins "metodológicos", acho que isso fica muito mais que claro. Não é concebível, portanto, que a morte se abstraia da vida. É, no entanto, parte constituinte fundamental da experiência de vida - tudo morre, cedo ou tarde, de animais e plantas, a estrelas e, provavelmente, átomos e as partículas mais elementares da constituição da realidade. É desta experiência de vida que decorre nossa morte, isto é, morremos porque vivemos ou morremos apesar de vivermos, sendo a morte uma face da vida? Talvez ambas as opções estejam erradas, posto que a vida não permite a ausência e a morte seja parte da experiência de viver (se constituinte ou decorrente dela, já não importa) e a morte não exista, portanto, enquanto ausência, concluo que a vida só pode ser absoluta e a morte efetiva - enquanto destituição de vida  (ou seja, perde sua capacidade de influenciar, perde sua relevância, sua característica a priori enquanto algo existente) - não pode existir, já que a vida é e será sempre relevante.

De uma forma mais resumida, posso falar, mais especificamente, que nenhum ser (e encaro ser aqui como qualquer coisa dentro do universo pulsante, qualquer coisa que tenha vida a priori, que seria "tudo", na verdade) deixa ter relevância em momento algum.

Sua presença enquanto vivo é o suficiente para deixar uma marca efetiva nos fluxos que subjazem a vida."

Meses depois, uma conclusão: Se a morte é a perda do estado de consciência, ela é altamente egoísta e individualista; nada morre porque nada jamais deixa de existir (ou de ter existido [ou de vir a existir]).



Morro? Pois então, vivo!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

“Quem quer entender o destino, tem de sobreviver a ele.” (re-resenha)



Jostein Gaarder é um escritor e filósofo norueguês, conhecidíssimo pelo seu livro O Mundo de Sofia, entretanto, a nossa relação se estreitou devido a uma outra carta, escondida não somente sob a manga, mas entre prateleiras de livrarias e sebos. Depois de anos de encontros e desencontros, numa tarde de folga no Centro da cidade, encontrei o curinga rindo ironicamente debaixo de uma pilha de livros, e por fim consumimos a nossa relação objeto-espectador / livro-leitor.
O Dia do Curinga é uma das obras que eu carregaria no bolso sempre, tivesse eu uma versão pocket sua. As primeiras páginas surtiram o mesmo efeito mágico de quando eu havia lido-as cinco, seis anos atrás, o restante era um oceano desconhecido. O livro não trata de Filosofia em si, como em O Mundo de Sofia, mas é filosófico, assim como toda a obra de Gaarder. Suas páginas carregam a história do garoto Hans-Thomas, que sai de Arendal, uma pequena cidade norueguesa, em direção à Grécia junto de seu pai “à procura da mulher que os deixou oito anos antes”, uma mãe-esposa que se perdeu no mundo para se encontrar, e nesse trajeto dentro de um fiat vermelho cruzando o Velho Continente até a Antiga Grécia dos olimpianos, o garoto participa de conversas com seu pai a cada “pausa para um cigarro” que vão desde maldições de família à desolação da bocarra de ferro do Tempo que devora a tudo e a todos, ele descobre a bebida púrpura e os peixinhos coloridos nos Alpes, e recebe – devido aos acasos do Destino – dois pequeninos presentes que o acompanham ao longo da viagem: um pequeno livrinho com letras minúsculas e ilegíveis, e um pedaço de vidro que lhe cai como uma lupa.
É através do livrinho que Gaarder nos conta uma história dentro da história e outra dentro desta, e no fim tudo vem a se encaixar como cartas espalhadas aleatoriamente pelo mundo, mas que começam a serem organizadas por uma mão invisível que trança as vidas no Destino. A história de Hans-Thomas, dos peixinhos, da bebida e das cartas de paciência de Frode é por vezes tão lúdica, assim como o próprio Curinga, tão fantasiosa que no fundo, já preso à narrativa reflexiva e suave, você se pega rezando pela realidade dessas estórias-histórias, agarrando-se com todas as forças nessa trança invisível.
Outro aspecto peculiar do livro – agradabilíssimo aos amantes de baralho – é a organização de seus capítulos, cada um sendo uma carta do baralho, e entre eles, a carta-capítulo do curinga que nos traz o verdadeiro ponto de revolução da história, o ponto inicial da evolução do herói, um ponto muito anterior a Hans-Thomas mas que tudo tem a ver com o garoto.

O Dia do Curinga é um daqueles livros que te deixa com o coração apertado conforme as suas páginas vão acabando, é um livro que te deixa com um brilho nos olhos quando o menciona, que te deixa – propositalmente – com muita pulga para pouca orelha, e isso é o mais gostoso, essa relação ativa que o leitor desenvolve com a história e suas reflexões, afinal, Gaarder se diz escritor e filósofo, e ele faz por merecer tais títulos. A grande jogada do curinga, ao meu ver, é você conseguir deslocar daquele universo as capacidades de observação e sensação, trazendo-as para cá. O dia do curinga encanta, porém encanta muito mais àquele que se dá ao prazer de observar, admirar e sentir os pequenos detalhes da vida, do cotidiano, tornando-se assim mais um curinga, mais uma carta fora e ao mesmo tempo dentro do baralho.