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segunda-feira, 12 de maio de 2014

“Quem quer entender o destino, tem de sobreviver a ele.” (re-resenha)



Jostein Gaarder é um escritor e filósofo norueguês, conhecidíssimo pelo seu livro O Mundo de Sofia, entretanto, a nossa relação se estreitou devido a uma outra carta, escondida não somente sob a manga, mas entre prateleiras de livrarias e sebos. Depois de anos de encontros e desencontros, numa tarde de folga no Centro da cidade, encontrei o curinga rindo ironicamente debaixo de uma pilha de livros, e por fim consumimos a nossa relação objeto-espectador / livro-leitor.
O Dia do Curinga é uma das obras que eu carregaria no bolso sempre, tivesse eu uma versão pocket sua. As primeiras páginas surtiram o mesmo efeito mágico de quando eu havia lido-as cinco, seis anos atrás, o restante era um oceano desconhecido. O livro não trata de Filosofia em si, como em O Mundo de Sofia, mas é filosófico, assim como toda a obra de Gaarder. Suas páginas carregam a história do garoto Hans-Thomas, que sai de Arendal, uma pequena cidade norueguesa, em direção à Grécia junto de seu pai “à procura da mulher que os deixou oito anos antes”, uma mãe-esposa que se perdeu no mundo para se encontrar, e nesse trajeto dentro de um fiat vermelho cruzando o Velho Continente até a Antiga Grécia dos olimpianos, o garoto participa de conversas com seu pai a cada “pausa para um cigarro” que vão desde maldições de família à desolação da bocarra de ferro do Tempo que devora a tudo e a todos, ele descobre a bebida púrpura e os peixinhos coloridos nos Alpes, e recebe – devido aos acasos do Destino – dois pequeninos presentes que o acompanham ao longo da viagem: um pequeno livrinho com letras minúsculas e ilegíveis, e um pedaço de vidro que lhe cai como uma lupa.
É através do livrinho que Gaarder nos conta uma história dentro da história e outra dentro desta, e no fim tudo vem a se encaixar como cartas espalhadas aleatoriamente pelo mundo, mas que começam a serem organizadas por uma mão invisível que trança as vidas no Destino. A história de Hans-Thomas, dos peixinhos, da bebida e das cartas de paciência de Frode é por vezes tão lúdica, assim como o próprio Curinga, tão fantasiosa que no fundo, já preso à narrativa reflexiva e suave, você se pega rezando pela realidade dessas estórias-histórias, agarrando-se com todas as forças nessa trança invisível.
Outro aspecto peculiar do livro – agradabilíssimo aos amantes de baralho – é a organização de seus capítulos, cada um sendo uma carta do baralho, e entre eles, a carta-capítulo do curinga que nos traz o verdadeiro ponto de revolução da história, o ponto inicial da evolução do herói, um ponto muito anterior a Hans-Thomas mas que tudo tem a ver com o garoto.

O Dia do Curinga é um daqueles livros que te deixa com o coração apertado conforme as suas páginas vão acabando, é um livro que te deixa com um brilho nos olhos quando o menciona, que te deixa – propositalmente – com muita pulga para pouca orelha, e isso é o mais gostoso, essa relação ativa que o leitor desenvolve com a história e suas reflexões, afinal, Gaarder se diz escritor e filósofo, e ele faz por merecer tais títulos. A grande jogada do curinga, ao meu ver, é você conseguir deslocar daquele universo as capacidades de observação e sensação, trazendo-as para cá. O dia do curinga encanta, porém encanta muito mais àquele que se dá ao prazer de observar, admirar e sentir os pequenos detalhes da vida, do cotidiano, tornando-se assim mais um curinga, mais uma carta fora e ao mesmo tempo dentro do baralho.


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