Um blog livre, aberto e despretensioso de resenhas caseiras, discussões acerca de... qualquer merda, na verdade...

autores até o momento:

Horácio Dib
Breno Crispino
Lucas Soneghet
Victor Fonseca
Lalesca Fravoline


Se quiser participar do blog, é só entrar em contato. Como já foi dito anteriormente, é um blog livre e aberto.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sobre escrever

O livro em questão é A Arte de Escrever, o autor é Schopenhauer. Começo essa resenha consciente da improvável ocasião de que alguém tenha lido esse livro. Desde já deixo clara minha opinião... O livro é bom pra cacete. De fato, são raras as obras que conheço que abordam com tanta profundidade e clareza o ato de escrever. Se você se interessa por isto, por ler ou por qualquer forma de criação artística e não se importa com as ocasionais alfinetadas e críticas sarcásticas de Schopenhauer à elite erudita alemã, recomendo fortemente a obra. Schopenhauer aborda tais temas com a mais sublime atitude carrancuda e pessimismo característicos, passando por trechos interessantes sobre modinhas literárias e até o papel dos escritores de resenha na literatura! Acredita nisso? Nem sabia que escritores de resenha tinham um papel na literatura ou um papel qualquer pra ser sincero. O escritor caracteriza estes e os críticos literários como aqueles com a função de praticar uma censura positiva, embarreirando as obras literárias mal escritas e guiando o povo às obras bem feitas. Diz ele que na realidade o que acontece é o contrário, e os críticos vivem em um pacto silencioso com os "escritores charlatões" com o vil objetivo de ganhar dinheiro às custas da "ignorância do povo" ( expressões em aspas foram cunhadas pelo filósofo). Mas enfim, o que realmente me fascinou e o que acredito que seja o ponto central do livro é a importância do pensar por si. Tal importância já foi dita inúmeras vezes e é vítima de banalização por gloriosos clichês, porém não perdeu seu valor. Schopenhauer expõe, brilhante e categoricamente, a beleza de pensar por si mesmo. A beleza de moldar o espírito e o intelecto com as próprias mãos. O autor adverte-nos a respeito da leitura excessiva como forma de obtenção massiva de informação, julgando esta capaz de "enrijecer o espírito". Esse trecho em particular chamou minha atenção e me levou a pensar. De que nos vale empaturrar-nos de todas as letras, versos, filmes, séries e etc. se o fizermos simplesmente como depósitos ocos? A leitura, quando desacompanhada do pensamento crítico e ativo, é prejudicial. Devo confessar que atingi altos níveis de empolgação e êxtase ao ler tais trechos. Logo que o fiz, fechei o livro. É fascinante a capacidade que as boas obras tem de nos incomodar. Ao abordar o ato de escrever, Schopenhauer cunhou uma das frases mais espetaculares que já vi: "O estilo é a fisionomia do espírito". O estilo em questão é o estilo de escrita e o espírito é o conjunto de intelecto e criatividade. Segundo o filósofo, ao escrever o autor imprime no que diz a fisionomia de seu espírito. Porém, o que me chamou mesmo atenção, e o que concluo da leitura dessa brilhante obra é a faculdade humana de criar. Quando criamos, imprimimos em papel, filme ou seja lá o que for, uma amostra crua de nossa alma. Ao escrever, filmar e o escambal, refinamos essa amostra e a tornamos compreensível. E então, começa a briga. Brigar pra entender, perscrutar, dissecar cada parte de uma criação literária ou de qualquer natureza. Schopenhauer renovou minha atenção para a beleza de pensar  por si, destruir conceitos, construir de novo, duvidar de si e depois concordar, só pra no final de tudo, pegar o que resultou e expressar. Isso, em minha tosca opinião, é arte.

Um comentário:

  1. Arte é transformação. "É choque", como disse o Michel Melamed, mas choque tanto no receptor quanto no autor. Arte é confronto mas também é acalento, conforto, desconstrução, reconstrução, destruição... criação! A Arte é linda! É horrenda! Mas sempre linda! Bela resenha de, eu imagino, um belo livro que homenageia uma das formas que eu considero mais belas de expressão pessoal, de comunicação, linguagem (e linguagem artística!), que é a escrita.
    Não tendo lido o livro, creio que a questão da "arte de escrever" é justamente escrever arte.

    ResponderExcluir