Foi com essa frase que o Rafael Elfe, do The Outside Dog, acabou de postar aqui no Facebook que eu decidi começar uma resenha que vem sendo adiada faz meses. Em parte pela complexidade do que é o folk, em parte por falta de conhecimento e estrutura de minha parte, em parte, ao contrário, pela simplicidade do folk, de tudo o que deveria ser dito com poucas palavras, poucas notas. Elfe postou a frase juntamente com esse vídeo:
Agora sim eu posso me dedicar a fingir que sei do que estou falando. Em outras tentativas de começar o texto eu falava da origem do termo, planejava falar de Bob Dylan, da música folk americana e da música folclórica, mas que se foda. Pro inferno com tudo isso, vou dar minha própria impressão, bem pessoal, do que é o folk.
Folk é a expressão máxima do povo por meio da música, é a fala-canto garranchada, o dedilhado autodidata feroz e a letra coracionada, emoção-alma enjuntada num canto sem platéia, porque o folk é do cancioneiro, mas é também do povo, é pro cancioneiro e é pro povo. É um berro de cultura, um ressoar de existência viva, muito viva, e reverberante. É o sertão, a lavoura, o pampa. É a condição própria do povo sentir-se povo, de reconhecer-se naquilo ali. É cantar a alma.
Em outro papo com o Rafael Elfe, conversávamos sobre a (então) nova banda dele, o The Outside Dog, e uma coisa que eu notei foi que, enquanto as antigas músicas eram compostas em inglês, as novas, após a entrada do Elfe, estão em português. Fui falar com ele a respeito disso e me contou que conheceu a banda num festival de folk (o All Folks Fest, em Sampa - https://www.facebook.com/AllFolksFest?fref=ts), e ficou amigo dos caras. O Elfe já tinha um trabalho solo bem bacana¹, que o levou para o festival, todo em português, enquanto o The Outside Dog compunha em inglês, com uma pegada mais pro folk americano. Ele me disse que vendo-o tocar sozinho com o violão, o pessoal da banda ficou tocado com a intimidade da coisa. E completa: "E [é] mais próxima à nossa língua mãe né, a comunicação. E claro, no meu caso, a não submissão, rs. Mas isso é coisa de quem está matriculado em ciências sociais, rs. Sempre achei legal defender a nossa coisa.". Acho que "defender a nossa coisa" é a melhor forma que encontro de simplificar o folk (novamente, é uma visão extremamente pessoal).
Folk é a expressão máxima do povo por meio da música, é a fala-canto garranchada, o dedilhado autodidata feroz e a letra coracionada, emoção-alma enjuntada num canto sem platéia, porque o folk é do cancioneiro, mas é também do povo, é pro cancioneiro e é pro povo. É um berro de cultura, um ressoar de existência viva, muito viva, e reverberante. É o sertão, a lavoura, o pampa. É a condição própria do povo sentir-se povo, de reconhecer-se naquilo ali. É cantar a alma.
Em outro papo com o Rafael Elfe, conversávamos sobre a (então) nova banda dele, o The Outside Dog, e uma coisa que eu notei foi que, enquanto as antigas músicas eram compostas em inglês, as novas, após a entrada do Elfe, estão em português. Fui falar com ele a respeito disso e me contou que conheceu a banda num festival de folk (o All Folks Fest, em Sampa - https://www.facebook.com/AllFolksFest?fref=ts), e ficou amigo dos caras. O Elfe já tinha um trabalho solo bem bacana¹, que o levou para o festival, todo em português, enquanto o The Outside Dog compunha em inglês, com uma pegada mais pro folk americano. Ele me disse que vendo-o tocar sozinho com o violão, o pessoal da banda ficou tocado com a intimidade da coisa. E completa: "E [é] mais próxima à nossa língua mãe né, a comunicação. E claro, no meu caso, a não submissão, rs. Mas isso é coisa de quem está matriculado em ciências sociais, rs. Sempre achei legal defender a nossa coisa.". Acho que "defender a nossa coisa" é a melhor forma que encontro de simplificar o folk (novamente, é uma visão extremamente pessoal).
A questão é que, seja como for, o The Outside Dog lançou um fantástico EP², já com o Elfe como integrante e com letras em português, e de tudo o que eu tinha ouvido deles e tinha gostado, mas sentido que faltava alguma coisa, agora me pareceu que a banda tinha encontrado o seja lá o que fosse que faltava para deixar o som, digamos assim, ideal. "Contramão", a primeira faixa do EP "Outros Caminhos Parte 1", é um ato de subversão e de defesa à nossa coisa. Deixo a letra com vocês:
O dia mal começa, mas eu não tenho pressa
Nunca vou perder o que não tenho E essa velha história, de viver atrás das horas
E se julgam bem a frente do seu tempo
De baixo dessa capa, escondem a verdade
Se é que algum dia a tiverem
Temem só aqueles, que fogem do modelo
Que sempre julgam como verdadeiro
Eu não compro o que vendem
Eu não creio no que creem
Eu não caio nessa história que foi tudo em vão
De que estou na contramão
De longe é maravilha, de perto a fantasia
Só enxergam aquilo que tem preço
O passo vai pra frente, mas parada está a mente
Que há tempos deixou de trabalhar
Se muito já é pouco, eu que sou o louco
De não querer ir abordo desse trem
Nada é o bastante, querem sempre o distante
É se esquecem o que cresce bem aqui
Eu não compro o que vendem
Eu não creio no que creem
Eu não caio nessa história que foi tudo em vão
De que estou na contramão
Pouco importa, nesse caso, se tratar dum som gringo (que vem dos folks americanos), o grito é da terra. É da coisa nossa. É folk.
¹ Ouça o trabalho solo do Rafael Elfe: https://soundcloud.com/rafaelelfe e a página no Facebook: https://www.facebook.com/fantasmadoporao?fref=ts
² Ouça o novo EP do The Outside Dog, Outros Caminhos Parte 1, assim como suas outras músicas: http://www.theoutsidedog.com/
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